sábado, 9 de abril de 2011

Expedição Antártica 2011 - Port Gable - Estreito de Drake

Diário de Bordo em 23 de janeiro de 2011

Temperatura: 10°C

Céu: aberto e claro
Vento: 25º Be (em relação a proa do barco)
Velocidade do vento: 15.6 Kn
Direção deslocamento: Estreito de Drake
Velocidade de deslocamento: ancorado em Port Gable
Barômetro: 987.5 hPa
Condição do mar: liso
Coordenadas: 54°53'31.1" S; 67°25'46.9"W
Local: Port Gable/Argentina


Pernoitamos em Port Gable, uma ilha onde não há nada além da natureza exuberante. Montanhas ao longe com seus picos cobertos pelas últimas neves da estação de verão ainda se contrapõem com o azul do céu desta manhã. Uma enseada vazia mas ainda se pode ver muito da geografia e da natureza. Você não identifca, até onde se possa olhar, atividade humana. Pelos próximos três ou quatro dias será apenas mar nos 360° de direção ao redor do KOTIK. Uma sensação e tanta.

O curioso daqui é a noite. Escureceu de fato por volta das 23:20 horas. Daqui para a frente será ssim. Na Antártica está havendo apenas 3 horas de luso-fusco. Esse foi meu primeiro contato com o dia se estendendo até essas horas. É que na Antártica existem duas situações bastante interessantes. Entre o Equinócio de Outono e o Equinócio da Primavera, portanto no Verão Austral, os dias vão se alongando até que ocorra em um único dia o chamado 'Sol da Meia Noite' e no inverno a coisa inverte, sendo a noite que vai durar quase seis meses.

Entre velas e motor, estamos indo. Após a consulta meteorológica das 06:00 horas, verificou-se que apenas na terça-feira poderemos ter vento de proa com aproximadamente 30 Kn de velocidade.

Na hora de levantar âncora e zarparmos, foi aquela correria. Há muito que se fazer e todos são chamados a ajudar no que puderem. Tirar as coberturas das velas, recolher, esvasiar e amarrar (bem) o bote auxiliar no convés, armazenas no paiol de proa tudo que ficava no convés, como cabos, defensas, capas das velas e etc. OLEG comanda tudo e cada um de sua família tem uma função específica. SOPHIE foi para o paiol de proa arrumar e amarrar tudo.

Não sei se vou conseguir anotar todos os dados pelo menos tres vezes ao dia, como queria, mas vou tentar. Sempre há algum incômodo. O OLEG é sensível a incomodos.

OBSERVAÇÕES

Dias 24, 25 e 26 de janeiro de 2011 - Travessia do Estreito de Drake - 2ª, 3ª e 4ª feiras.

Durante esses dias, a atividade a bordo foi de absoluta imersão na cama. Tentar sair era uma aventura maior do que a própria expedição. Pegamos um mar com bastante vento na travessia do famoso Estreito de Drake que justificou em tudo seu nome.

Segunda-feira - 24Jan11 - Foi determinado turnos de vigilância durante a noite. Meu turno - salve a infantaria - foi das 03:00 hs as 04:30 hs. Estava muito bem obrigado. Como acordei com muita sede, fui e bebi uma latinha inteirinha de Sprite. Durante meu turno o estômago começou a mal-dizer o refrigerante que se movimentava dentro de mim do  esmo jeito que o  mar lá fora no Drake. Comecei a suar!!!

O problema é que bem em meu turno, o vento amansou e nossa velocidade foi caindo aos míseros 2,2 Kn...o barco ficou a mercê das correntes e ondas e ai não tem estomago que aguente. Somente o pessoal da família BELY que mora a tanto tempo embarcado para aguentar isso. A sensação é horrível.

04:30 hs o OLEG me rendeu na vigila e eu corri para a cama e de lá só fui sair na terça-feira a noite para tentar comer algo (muito) leve e correr de volta para a cama. A baixa velocidade de deslocamento se traduz em mal estar, principalmente por que na navegação a vela voce fica boa parte do seu tempo 'dentro' do barco com muita pouca visibilidade externa. Se imagine numa caixa sem janelas balançando em todas as direções...TERRÍVEL.

Não foi eu apenas. Todos passaram mal. Tome Meclin goela abaixo.

Tem um pessoal que aguentou melhor o chacoalha. O Ricardo, gaúcho e velejador, foi em minha opinião o que mais aguentou até o momento. O André também já teve suas experiências e suportou bem a ida. Já o Bene e o Fernando (que de início já disse que não iria ajudar por que não se dava bem com isso) zeraram como eu. As mulheres foram deixadas de fora disso  mas passaram muito mal. Todos vomitaram. Eu não vomitei, mas fiquei inútil para o serviço.

O problema é um só: além do balanço a baixíssima velocidade do veleiro. Não havia ventos no meu turno. O anemômetro mostrava vento de 5 Kn. O veleiro ficou em seus 2,7 Kn com ondas altas e desencontradas que o faziam balançar em todas as direções ao mesmo tempo.

Olhava para fora e via aquelas ondas retorcidas e amorfas. Seria melhor estar lá fora e no frio...ou quase.

Estou com o corpo todo dolorido de tanto ficar deitado e das pancadas que se acaba levando na beliche.

 


Continua...



Boa navegação a todos!
Capitão Gutemberg.
Comandante da Embarcação Odyssey.

O Capitão OLEG BELY prepara o ritual do São Nicolai...uma tradição a bordo aos que vão para a Antártica.


Eu a caminho do Drake, no final do Canal de Beagle.

No meio do Drake. Dá para perceber que a coisa não está bem...risos!

Terra a vista! Passamos por Smith Island em nosso Be.

Sol as 23:54 hs em meio a travessia do Drake, mas já dentro da Convergência Antártica

O DRAKE em sua parte final.

Por volta das 03:20 hs ainda no Drake.

Snow Island em nosso Bb. Parte final do Drake

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