quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um dia no manguezal

Diário de Bordo em 11 de outubro de 2011.


"Ceratopogonídeos vulgarmente conhecidos como "Porvinhas"


Ceratopogonidae é a família da Ordem Diptera em que as espécies hematófagas são conhecidas como maruim, mosquito pólvora, porvinhas, pólvora, meruim, miruim, bembé, catuqui, catuquim, meruí,meurim, muruim, mosquito-do-mangue, mosquitinho-do-mangue.dentre outros nomes populares. dentro desta família o maior gênero é o Culicoides - sendo cosmopolita, excetuando antártida e nova zelândia -, no brasil ocorre ainda o gênero Focipomyia subgêneros Lasiohelea e Leptoconops.

Estas espécies ocorrem preferencialmente em temperaturas acima de 25º C, umidade acima de 80% e pouco vento, alimentando-se sempre próximos a áreas de reprodução.

O horário de atividade parece variar de acordo com o local havendo relatos tantos de atividade o dia todo como só durante o dia, com picos de atividades também variáveis.

A principal espécie que ataca o homem no brasil é a Culicoides paraensis (Goeldi,1905) - descrito pelo grande naturalista emílio goeldi -, correspondendo a mais de 90% de ocorrências de picadas de porvinhas

Distribuição geográfica de C. paraensis na américa




Fonte: figura retirada de felippe-bauer et al.

Este animal tem importância epidemiológica em humanos por ser vetor da febre oropouche além da filariose causada por Mansonella ozzardi. Apesar desta última não ser patogênica, sua identificação é importante para se diferenciar suas microfilárias das de Wuchereria bancrofti, causadoras da elefantíase e transmitida pelo mosquito Culex sp.

Já a febre oropouche é mais grave, causado pelo vírus de mesmo nome. estima-se que entre 1961 e 1996 o vírus tenha infectado mais de 500mil pessoas somente na amazônia brasileira. os sintomas são cefaléia, dor muscular, nas articulações, pode ocorrer meningite asséptica, sem óbitos nem sequelas. esta é uma doença reemergente ocorrendo algumas epidemias nos últimos anos, mais de duas décadas após a última epidemia.

E finalmente temos uma foto legal do famoso porvinha:


Culicoides sp, é bom lembrar que esse bicho mede 1 - 3 mm

 
No trabalho de felippe-bauer e colaboradores há uma chave de identificação de espécies do grupo paraensis no qual descrevem sempre a presença de 18 dentes na mandíbula, isso me fez perceber que deve ser por esse tipo de aparato bucal - mordedor ao invés de simplesmente picador - que o porvinha sempre causa um grande estrago onde ele suga o sangue. Em inglês esta suposição é muito mais lógico, pois porvinha são conhecidas como biting midges (mosquitos mordedores), ao passo que nós chamamos erroneamente tal processo hematofágico como "picada".
Além disso a saliva é constituída por diversas proteínas que causam edema, vasodilatação e prurido. Juntamente a isto tudo ainda há proteínas com efeito anticoagulante.
Sabendo de tudo isto é fácil entender o estrago que a mordida deste animal causa em nossa pele. para piorar o visual da mordida há pessoas que ainda têm (isso ainda tem acento??) reações alérgicas que variam muito de intensidade."

Esse material acima, entre "aspas" e em itálico foi resultado de uma rápida pesquisa na internet de propriedade de escrito por Glenn Makuta, biólogo e pode ser lida na íntegra em seu blog: http://sinantropica.blogspot.com/2009/01/culicoides-spp.html .

O que me motivou a pesquisa foi o intenso e cruel ataque que o Alex e eu sofremos no manguezal sábado agora (08Out11). Vou contar.

Decidimos catar alguns poucos mariscos para o tradicional LAMBE-LAMBE a bordo da Odyssey. Nos preparamos e fomos em busca dos mexilhões do mangue.

Nem bem chegamos no igarapé, recebemos uma 'salva' que quase nos tirou a motivação... mas persistimos para o bem de nosso estomago e planejamento culinário.

Conforme entrávamos pelos igarapés e gamboas eramos atacados cada vez mais.


O manguezal é cheio de vida que precisa ser protegida


Essa é para provar que estivemos lá
 
 

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Em tudo o manguezal me impressiona. Pelo silêncio. Pela diversidade de vida. Pelo cheiro e pela sua beleza.

 
O lugar é lindo e vale o sacrifício. Ainda se só tivessem os porvinhas a coisa era mais ou menas equilibradas, mas some as dentuços ai de cima seus amigos borrachudos, pernilongos, muriçocas e as mutucas (de todos os tamanhos).



Nos lambuzamos quando dentro do mangue com a lama para nos proteger dos demais devoradores, mas das mutucas picavam (ou mordiam - depois da matéria acima nem sei mais) por sobre a lama e tudo e com as mãos toda lambuzadas de lama, quando íamos nos proteger das picadas era só lama que voava - como se isso importasse considerando onde estávamos.

Enfim, pegamos a quantidade necessária praa um bpom LAMBE-LAMBE e voltamos com nossas cicatrizes para o barco...

Toda incursão ao manguezal tem um preço. pagamos o nosso mas garanto que vale a pena. Então...

Boa navegação a todos!

Capitão Gutemberg.
Comandante da Embarcação Odyssey.



18 dentes tem o cara!!!! Tá explicado...

2 comentários:

  1. Olá Gutemberg.

    Interessante e apavorante essa sua incursão pelo mangue....embora tenha valido a pena...e eu já provei o tal Lambe Lambe...maravilhoso...

    A perguntar que não quer calar: quem o que esse "mordedor" ataca num lugar desse?Só os humanos que lá aparecem? Lá seria criadouro ?Tô fora....rs..ah ,mas obrigada pela informação e aviso.

    Abçs Mara Sílvia

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  2. Louvar a Deus e agradecer por todas as coisas maravilhosas que Ele nos brinda nessa tão curta jornada humana, é reconhecer o poder do Pai na imensidão natural da vida. Linda tua oração inicial. Realmente quando nos defrontamos com essas belezas naturais sentimos a mão do Criador bem próximo a nós e louvamos por isso. Tua viagem foi inspiradora nesse sentido. Escreves e descreves de forma maravilhosamente bem essa viagem. Faz-nos sentir, por momentos, presentes nessa tua jornada. Tirando a parte do “estar mareado” – tan poco mi gusta, experimentar uma dose de wisky seria caminhar pelas nuvens ou cair num sono profundo e reparador. Não teria como agüentar. Parabéns por sua travessia e por nos relatar de forma tão calorosa isso. Beijos com amor. Mana Rô

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